João 13:1 a 5
1 Ora, antes da
Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo
para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. 2
Durante a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de
Simão, que traísse a Jesus, 3 sabendo este que o Pai tudo confiara às
suas mãos, e que ele viera de Deus, e voltava para Deus, 4 levantou-se
da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. 5
Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a
enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.
Introdução:
O que ocorreu nessa cena é que Jesus assumiu
um papel que não era seu. O papel de servo em uma casa cheia de convidados.
O serviço de lavar os pés era algo muito
comum naquela época e naquele lugar, pois não havia pavimentação nas ruas,
todos usavam sandálias e o clima quente e seco deixava todos os caminhos
permanentemente empoeirados. Lavar os pés, portanto, era algo muito necessário.
No entanto, naquela casa, talvez pela
correria do evento em questão (a ceia de páscoa), o fato é que ninguém lavou os
pés aos convidados.
Jesus aproveitou a situação e fez o que
ninguém quis fazer. Assumiu a tarefa que era dos servos e lavou os pés aos discípulos.
Diante da realidade da época, portanto,
percebemos que a atitude de Jesus em lavar os pés dos discípulos aparece
recheada de ensinamentos. Aqui nós iremos mencionar 3 desses ensinamentos que
Jesus transmite por seu modelo de serviço.
1º ensinamento: DESPRENDIMENTO
Quando leio esse texto imagino que Jesus estivesse
no lugar mais importante da mesa. Portanto, para assumir o papel de servo
era-lhe necessário primeiro se desprender da condição em que se encontrava: a
de convidado de honra.
Jesus, então, levantou-se porque viu que
servir aos discípulos era melhor do que permanecer na condição em que estava.
Ele se desprendeu da sua condição ou posição.
Depois, de acordo com o versículo 4, Jesus
retirou sua capa. Ele preferiu servir sem embaraços a manter-se confortável e
aquecido. Ele se desprendeu de seu conforto.
Em seguida colocou uma toalha em volta da
cintura. Ele sabia que serviria melhor se estivesse vestindo como um escravo. Jesus
se desprendeu de sua imagem.
Filipenses 2:6 a 11 diz que Jesus já havia
“se esvaziado de si mesmo” “assumindo forma de servo”. O que Jesus fez naquela
ceia, então, foi simplesmente traduzir em gestos as palavras de Fp. 2:6 a 11.
O desprendimento, portanto, é a primeira
característica do modelo de serviço de Jesus.
2º ensinamento: AMOR
Todos os temas teológicos da bíblia existem
por causa do amor de Deus. A criação reflete o amor de Deus. A graça só é graça
por causa do amor. A redenção, a salvação, a volta de cristo e até a disciplina
não existiriam se Deus não amasse ao mundo. Com o serviço não poderia ser
diferente.
Cristo serviu aos discípulos por causa do
amor que sentia por eles e pela humanidade.
Jesus amou os seus, e, segundo o texto, “os
amou até o fim”. Isso significa que em nenhum momento ele deixou de amá-los,
independente das ações deles.
“Amou até o fim” também significa dizer que
amou de tal forma, e com tal intensidade, que esse amor o conduziu ao seu
próprio fim. O amor de Cristo pelos “seus que estavam no mundo” (v. 1) era
maior do que o amor que Ele tinha por si mesmo. Esse deve ser o nosso padrão de
amor de uns para com os outros.
De acordo com 1º Coríntios 13:1 a 3, de nada
nos adiantam os nossos feitos, por mais belos que eles sejam, se não são
motivados pelo amor. O motor das nossas ações precisa ser o amor a Deus e aos
demais irmãos.
O amor, portanto, é a segunda característica
do modelo de serviço de Jesus.
3º ensinamento: EXEMPLO
Jesus serviu porque sabia que o tempo que lhe
restava com os discípulos era pouco, e que havia algo que precisava ser
reforçado.
Reflita comigo: se você estivesse no lugar de
Jesus, tivesse passado os três últimos anos ensinando aquele grupo sobre vários
temas diferentes, soubesse que vai deixá-los e que só tem tempo para mais uma
única lição ao grupo. Que lição você escolheria?
Jesus escolheu ensiná-los a servir.
Somente olhando desta forma é que percebemos
a importância deste tema.
Cristo resolveu passar os últimos momentos
com os discípulos ensinando-os a servir uns aos outros.
Isso é tão verdade que mais a frente, no
verso 15, Jesus diz “eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes
fiz”.
Eu poderia ter colocado esse como o primeiro
ou o segundo ponto dessa reflexão, mas coloquei como o último porque precisamos
entender que tudo fica sem sentido se não olharmos para o gesto de Jesus como
algo a ser aprendido e imitado.
De nada valeria dizer que Cristo amou se não
terminássemos dizendo que precisamos aprender a amar.
De nada valeria dizer que Cristo se
desprendeu da situação em que estava se não terminássemos dizendo que
precisamos aprender a nos desprender dos confortos que nos cercam e daquilo que
possuímos por direito.
Jesus veio ao mundo para salvar a humanidade.
Ele veio para que o preço do pecado fosse pago. Ele veio para consumar a obra
de Deus.
Mas para que Jesus salvasse o mundo ele
precisaria simplesmente morrer por nós e ressuscitar. Por que, então, ele
passou tanto tempo vivendo entre nós se tudo o que bastava era morrer e
ressurgir?
A resposta é: para nos ensinar a viver.
Que ironia! Deus se fez humano para ensinar
os seres humanos a serem mais humanos.
Cristo serviu pedagogicamente. Serviu para
nos ensinar a servir, mas também porque sabia que assim ele nos ensinaria a
amar e a nos desprender da vida.
Conclusão:
Precisamos ter sempre em mente o modelo de
serviço que Jesus mostrou ao mundo, lembrando da necessidade de amarmos ao
outro ao ponto de sairmos de nossa zona de conforto, abrirmos mão do calor de
nossas capas e caminharmos de bacia nas mãos e toalha na cintura na direção do
nosso próximo.
Precisamos ver vida de Cristo não somente
como um ato redentor de Deus, mas como um ato pedagógico, visando tornar os
seres humanos cada vez mais humanos.
Quero encerrar com uma frase do próprio
Cristo. No verso 17 do mesmo capítulo ele nos diz: “Agora que vocês sabem estas
coisas, felizes serão se as praticarem”.
Glória seja
somente a Deus
Luiz Henrique B. Cabral