22 de junho de 2010

O problema educacional


Olá!

Todos os dias surgem na TV, livrarias, consultórios, rádios e conversas de esquina informações novas acerca das maneiras “modernas” e “corretas” de se criar filhos. Consenso, é claro, é algo impossível nesse meio, mas há formas melhores e outras, digamos, nem tanto, de se educar os pimpolhos.

Millôr Fernandes nos apresenta uma fábula da mãe moderna diante do problema de educação na pós-modernidade.

Saboreiem essa pérola e aprendam o que for possível.


Um abraço.


A pobre mãezinha levou o filhinho ao psicanalista porque ele era incapaz de comer qualquer coisa. Ou coisa alguma. Só gostava de comer o impossível. O médico examinou o crescimento mental do menino e recomendou à mãe (dele) que não forçasse o menino a comer o que ele não gostasse.

Percebia-se nitidamente que era um jovenzinho de formação extravagante a quem se deveria oferecer apenas pratos ímpares. Assim foi que a mãezinha, muito da psicanalítica, chegou em casa e perguntou ao filhinho o que é que ele gostaria de comer. O menino nem titubeou. Disse logo:

- "Uma lagartixa".

Com grande repugnância e não menor dificuldade, a mãe(zinha) conseguiu caçar uma lagartixa e deu-a ao menino. O menino olhou a lagartixa com igual ânsia, um olho pra cá, outro pra lá, os dois olhos parando lá em cima e exclamou:

- Como é que a senhora pretende que eu coma essa porcaria assim crua. Não tem sequer manteiga?

A mãe, sempre mãe, psicanaliticamente orientada, pegou a lagartixa, pô-la na frigideira e fritou-a como o menino desejava.

- Está bem agora? - perguntou ao menino.

- Não - respondeu a peste, - parte ao meio.

A mãezinha tão Kleiniana, coitada, fez o que o menino mandava. O menino olhou a mãezinha, a mãezinha olhou o menino, o menino mexeu um olho, a mãe baixou a cabeça meio centímetro, o menino mexeu o outro olho, a mãe voltou com a cabeça à posição anterior e aí o menino impôs:

- Eu só como a lagartixa se a senhora comer metade.

- Então come que depois eu como - disse a mãe.

- Não, você tem que comer primeiro - disse o menino.

A mãezinha sentiu uma golfada de nojo, mas, que ia fazer? Mãe é mãe e, além do mais, ela tinha tantas raízes junguianas! Fechou os olhos e, para não sentir, com um gesto rápido, jogou metade da lagartixa dentro da goela, engoliu. O menino olhou-a firme, olhou a metade da lagartixa dentro na frigideira e começou a chorar:

- "Ah, ah, ah!… A senhora comeu exatamente a metade que eu gosto. Essa daí eu não como de jeito nenhum."


Moral: Quando você tiver de engolir um sapo, não há o que escolher. Mas quando tiver que engolir metade do sapo escolha sempre a metade que coaxa.

Submoral: Dizem alguns historiadores que a mãe pegou e deu uma bruta surra no garoto. Mas os historiadores que abraçam essa versão não sabem os terríveis traumas (ai, freudianos) que causam na infância esses choques físico-morais provocados por espancamentos. Todas as mães modernas preferem comer lagartixas.


Do livro: Fábulas Fabulosas Millôr Fernandes-Círculo do Livro Instituto de Aprendizagem e Comunicação Empresarial



Fonte: http://www.metaforas.com.br/metaforas/g57metaf.asp